sábado, 9 de fevereiro de 2013

Aconteceu em Jerusalém....

Perfeita Expressão do Amor Verdadeiro


Em Jerusalém, nos arredores do Templo, adornada mulher encontrou um nazareno, de olhos fascinantes e lúcidos, de cabelos delicados e melancólico sorriso, e fixou-o com um olhar sedutor.

Arrebatada pela onda de simpatia a irradiar-se dele, corrigiu as dobras da sua belíssima túnica, colocou indizível expressão de doçura no olhar e, deixando perceber nos contornos do corpo frágil, a visível paixão que a possuíra de súbito, abeirou-se do desconhecido e falou, provocante:
-Jovem, as flores de Séforis encheram-me a ânfora do coração com deliciosos perfumes. Tenho felicidade ao teu dispor, em minha loja de essências finas...
A deslumbrante mulher indicou uma grande casa, cercada de rosas, à sombra de um arvoredo acolhedor, e ajuntou: 

-Inúmeros peregrinos cansados me buscam a procura do repouso que reconforta. Em minha primavera juvenil, eles encontram o prazer que representa a alegria da vida. Sabe, é que o lírio do vale não tem a carícia dos meus braços e a romã saborosa não possui o mel de meus lábios. Vem e vê! Eu te darei um leito macio, tapetes dourados e vinho capitoso ... Acariciarei o teu rosto abatido e curarei o teu cansaço da longa viagem! Descansarás teus pés em água de nardo e ouvirás, feliz, as harpas e os alaúdes de meu jardim. Tenho a meu serviço músicos e dançarinas, treinados em palácios ilustres!...

Ante a incompreensível mudez do nobre nazareno, tornou a moça, suplicando depois de leve pausa: 


-Jovem, porque não respondes?

Descobri em teus olhos uma diferente chama e, assim procedo por amar-te.  

Tenho sede de afeição que me complete a vida. Atende! atende!...

O mais sábio entre os homens parecia não perceber a vibração febril com que semelhantes palavras eram pronunciadas e, notando-lhe a expressão fisionômica indefinível, a vendedora de essências acrescentou uma tanto indignada:


-Não virás comigo? 

Constrangido por aquele olhar extremamente sensual, o iluminado forasteiro apenas murmurou: 

-Agora, não. Depois, no entanto, quem sabe?!...

A mulher, adornada de joias, sentindo-se desprezada, prorrompeu em sarcasmos e partiu, revoltada.


Transcorridos dois anos, quando Jesus levantava paralítico, ao pé do Tanque de Betesaida, uma respeitosa senhora pediu-lhe socorro para uma infeliz criatura, que vivia atormentada por doloroso sofrimento.

O Mestre seguiu-a, sem hesitar.


Num pardieiro denegrido e sujo, um corpo chagado exalava gemidos angustiosos.

A disputada marcadora de aromas ali se encontrava carcomida de úlceras, de pele enegrecida e rosto deformado. Feridas sanguinolentas tomavam-lhe o corpo, que agora estava semelhante ao esterco da terra. Com exceção dos olhos profundos e indagadores, nada mais lhe restava da beleza antiga. Era, apenas, uma sombra leprosa, da qual ninguém ousava aproximar-se.

Ela fitou o Mestre e reconheceu-o "de pronto". 

Era o mesmo belo nazareno, de porte sublime e atraente expressão, que ela tentara seduzir dois anos antes.

O Cristo de Deus estendeu-lhe os braços angélicos, tocado de intraduzível ternura e disse-lhe: 

-Vem a mim, tu que sofres! Na Casa de Meu Pai, nunca se extingue a esperança. 

A interpelada quis recuar, conturbada de assombro, mas não conseguiu mover os próprios dedos, vencida pela dor.

O Mestre, porém, transbordando compaixão, com humilde respeito, ajoelhou-se e aconchegou a infeliz irmã ao seu peito. 

A infeliz reuniu todas as forças que lhe sobravam e perguntou, em voz reticenciosa e sofrida. 

-Tu?... o Messias Nazareno?... O Profeta que cura, reanima e alivia?!... Que viste fazer, junto de uma mulher tão miserável quanto eu?

Ele, contudo, sorriu benevolente, dizendo apenas: 

-Agora, minha irmã, venho satisfazer-te os apelos que me fizeste há exatos dois anos. 

Recordando-lhe as palavras do primeiro encontro, acentuou, sereno:

-Descubro em teus olhos uma diferente chama e, assim, procedo por amar-te.

 (Contos e Apólogos - Espírito Irmão X por Chico Xavier) 




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