No início dos anos 2000, Eliseu Dias, 37, era um dos traficantes com o maior número de pontos de venda de drogas na periferia de Vitória, capital do Espírito Santo. Lucrava quase R$ 20 mil semanais em oito bocas de fumo e comandava uma tropa de quase trinta criminosos.
Sua vida, como ele mesmo define, era a de um marajá. "Minha preocupação era contar dinheiro e me defender dos inimigos."
Entre esses adversários, estava o padre italiano Gianpietro Carraro, que, naquela época atuava com o tratamento de viciados capixabas.
"Eu tentava tirar as pessoas das drogas e o Eliseu tentava levá-las para as drogas", afirmou o religioso que hoje trabalha principalmente na capital paulista.
De uma hora para a outra, sem saber explicar o motivo, Eliseu se viciou em crack, logo após ficar quase três anos preso pelo crime de tráfico.
"Costumava usar cocaína, mas quando caí no crack foi o meu fim", explica.
O que parecia ser o fim, porém, foi um recomeço para Eliseu. Nos últimos sete anos ele fez da cracolândia, no centro de São Paulo, seu novo escritório. Não de venda de drogas, mas de prospecção de novos pacientes.
Atualmente, Eliseu é coordenador de campo da ONG católica Missão Belém, entidade que usa a religião como tratamento de usuários de drogas, principalmente de crack. A instituição é dirigida pelo mesmo padre Gianpietro Carraro, que se mudou para a capital paulista no início da década passada e começou a trabalhar com moradores de rua de toda a cidade.
Para chegar ao atual emprego, Eliseu passou sete meses internado se tratando em uma das casas da instituição.
REENCONTRO
O reencontro de Eliseu e Carraro na capital paulista mostrou que a batalha foi vencida pelo padre, mas contou com a fundamental ajuda do ex-traficante, que teve força de vontade para dar a volta por cima.
"Eu tinha virado um 'noia'. Entreguei minhas bocas [de fumo] e resolvi me tratar com o pessoal da missão."
Desde o fim do ano passado a ONG, formada em sua maioria por ex-viciados de drogas, conseguiu convencer quase 2.000 pessoas da cracolândia a se tratarem. Um terço desses viciados permanece em tratamento em 80 casas de internação espalhadas por todo o Estado.
Casado com uma assistente social que trabalha com ele, o ex-traficante comemora a mudança de vida e de profissão. Agora é um "anjo da guarda" da cracolândia. "Poderia ter chegado onde eu cheguei de outra forma. Mas Deus quis que fosse assim."
Afonso Benites
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