Pais relatam a experiência de conviver com crianças
que eles classificam como especiais, ainda que sem comprovação científica.
Entenda o que são as crianças índigo.
Raquel Paulino , especial para o iG São Paulo |
18/04/2013 13:32:41
Mesmo antes de ter seu primeiro filho – Henrique, hoje
com cinco anos – a dona de casa Alessandra, que prefere não revelar seu
sobrenome, achava que seria mãe de uma criança mais avançada que as outras. “Eu
havia sonhado que duas freiras me entregavam o bebê e diziam que a profecia se
concretizava”, revela. Quando o menino começou a falar, mostrou-se diferente.
“Ele sempre pediu que eu rezasse, diz que vê uma luz dourada ao meu redor
quando faço isso. Aos dois anos, me falou que não conseguia entrar no quarto de
brinquedos porque havia um jacaré lá, e eu precisava rezar para o bicho ir
embora. Rezei e ele foi acompanhando com os olhos a ‘saída’ do animal”, conta.
À medida que Henrique cresce, outras características
especiais se manifestam. “Ele é muito questionador e não se contenta com um
‘não’ como resposta; argumentamos como adultos e ele fica satisfeito. Também é
livre, independente, agregador e se preocupa com os outros, coloca as mãozinhas
sobre machucados para curá-los. Com pequenos comentários, nos faz refletir
sobre nossas atitudes e crescer como seres humanos”, enumera a mãe. E então
Alessandra descobriu que seu filho poderia ser classificado como uma criança
índigo.
De acordo com a literatura sobre o assunto (alguns dos
livros de referência são “Educando Crianças Índigo – Uma Nova Pedagogia para as
Crianças da Nova Era!”, de Egidio Vecchio, e “Crianças Índigo – Uma Visão
Espiritualista”, de Rosana Beni), as características do garoto são mesmo as de
um índigo. O conceito surgiu em 1982, com a publicação de “Entendendo sua Vida
Através da Cor”, da norte-americana Nancy Ann Tappe. Nele, a parapsicóloga
descreve um novo padrão de comportamento de algumas crianças nascidas a partir
dos anos 1970, que vieram ao mundo para provocar uma grande transformação
social e que teriam a aura azul – daí o “índigo” do nome.
Mas não é só de paz e espiritualidade que o universo
das crianças índigo é composto. Algumas de suas características negativas são a
falta de concentração quando a atividade não é de seu interesse, pouco respeito
por autoridade e a distração excessiva. A secretária Daniela Santos notou isso
em sua filha Júlia, de quatro anos, e preferiu procurar ajuda médica. “Para
mim, ela tinha TDAH [transtorno de déficit de atenção com hiperatividade] .
Conversei com o pediatra e ele pediu exames, que não indicaram nada neurologicamente
errado com ela. Foi então que algumas pessoas da minha família começaram a me
falar que achavam que a Júlia era índigo”, afirma.
A ideia foi inicialmente rejeitada por Daniela. “Sou
muito católica e achava que isso era coisa de espírita”, justifica-se. Depois
de ler sobre crianças índigo e desfazer essa impressão – o espiritismo não é a
“religião oficial dos índigos”, apenas aceita melhor a questão –, convenceu-se
de que sua menina é uma delas. “Chamou muito minha atenção saber que os índigos
amam a natureza e os animais, sofrem por causa de violência contra eles. A
Júlia é assim, fica mais à vontade no parque do que em casa e chora se vê um
cãozinho ou um gatinho machucado”.
Não há comprovação científica para a teoria das
crianças índigo. Sobre o tema, a Sociedade Brasileira de Pediatria se limita a
declarar, por e-mail, que “é um assunto que não elucida nada científico”. Por
isso, a psicóloga Fatima Olivares recomenda aos pais que tiverem dúvidas
procederem como Daniela. “Muitos ‘sintomas’, como a inquietude e a dificuldade
de atenção, são parecidos, e o TDAH precisa ser tratado de forma adequada, pois
traz muito sofrimento à criança”, explica.
Em seu consultório, a psicóloga já ouviu relatos de
mães que notaram que havia algo diferente em seus filhos, no sentido de serem
índigos, desde muito cedo. “São bebês que olham nos olhos demoradamente,
respondem mais prontamente a estímulos externos, andam e falam precocemente.
Como é um comportamento que envolve intelecto, físico e emoção, os pais notam
isso pela convivência com a criança. Não existe algo específico que ‘denuncie’
um índigo”, diz.
Pessoalmente, Fatima não crê que os pais possam achar
que um filho seja índigo por pura “corujice”. “Os adultos sabem perfeitamente
quem são suas crianças, com seus defeitos e suas qualidades. Sabem de verdade
quando o filho é índigo”, afirma. Caso eles estejam convencidos de que esse é
realmente o caso, ela considera essencial que o lar seja tranquilo, organizado
e equilibrado e que seja escolhida para o pequeno uma escola que tenha acesso
mais fácil a expressões artísticas e que responda à sensibilidade dessas
crianças. “As escolas com a pedagogia Waldorf são as que mais se encaixam nesse
perfil”, orienta.
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