Certa vez, um amigo e colega, presidente de uma
prestigiosa sociedade médica, pediu-me para conversar com ele sobre a
reencarnação, pois queria ouvir e discutir com alguém de sua estima e
confiança, fatos e elementos que lhe permitissem aceitar ou refutar tal
possibilidade.
No caso, a pauta não era discutir algum tipo de vida depois da morte e nem alguma suposta ressurreição, entendida essa como o retorno à vida no mesmo corpo. Tampouco ele queria uma discussão mística ou filosófica sobre a linearidade do tempo e sua irrelevância ou não em planos de outras dimensões.
Também não estava interessado em questões
religiosas, credos, dogmas, e muito menos na questão da fé. E nem em livros e
autores, pois referências ele mesmo poderia encontrá-las. O que ele queria era
saber se eu estava a par de informações e fatos que eu mesmo tivesse constatado
ou tivesse ouvido de uma fidedigna e imparcial fonte.
Comecei lhe contando que há muitos anos, quando me encontrava nos Estados Unidos, em certa ocasião, conversando com um médico americano que estava trabalhando em sua tese de doutorado em psiquiatria, ele me confidenciou que seu estudo consistia em fazer regressão hipnótica de indivíduos para antes do nascimento e no caso de consistentes relatos de fatos de alguma vida anterior, ia à busca de locais, datas e documentos que pudessem comprovar uma existência passada.
No histórico do seu interesse por essa pesquisa,
havia o caso de uma jovem, filha única muito amada pelo pai que a tratava por
um especial apelido carinhoso. Quando seu pai veio a falecer, ela, aos cinco
anos de idade, acabou sendo criada por uma parenta que morava em outra cidade.
Depois, já adulta, mudou-se novamente para outra cidade, sem mais nenhum
contato com alguém da sua infância. Casou e teve um filho. E eis que um dia, o
menino, com apenas seis anos de idade, subitamente parou de brincar, correu
para a mãe e segurando o rosto dela com sua mãozinha, olhou-a bem nos olhos e
chamou-a pelo apelido que só era conhecido por ela e que nunca mais o tinha
ouvido até então. Aos poucos, ela foi notando mais características do seu
falecido pai nas atitudes do seu filho. Esse e mais outros casos análogos
motivaram o médico à pesquisa que estava realizando.
De outro caso eu soube por uma jornalista que escreveu a história de uma família onde o filho, de apenas oito anos, foi sequestrado e morto apesar do pagamento do resgate, pois havia reconhecido um dos sequestradores. Anos depois, quando o casal teve outro filho, uma menina, aos cinco anos de idade, ela começou a perguntar onde estavam certos brinquedos, seus cadernos e mochilas que, em verdade, eram do irmão, e os pais os haviam guardado onde ninguém mexia havia anos. Ademais, a letra da menina aos oito anos de idade era idêntica a do irmão.
Narrei também o caso de um garoto que conheci quando trabalhava em pesquisa no Hospital do Câncer. O menino tinha cerca de nove anos de idade e seu câncer ósseo havia se disseminado, apesar da amputação da perna com o tumor. Precisava fazer quimioterapia, porém se recusava. Quando me foi trazido pelos pais, que estavam vivendo séria crise conjugal precipitada pela doença do menino, conversando com ele a sós, como se fosse um adulto, consegui convencê-lo a submeter-se ao tratamento com a equipe de oncologia pediátrica. Alguns meses depois os pais o trouxeram para mim, pois ele havia manifestado o desejo de me ver.
A sós no consultório, de repente, parou de falar sobre a escola, seus amiguinhos, sobre o tratamento, e olhando-me nos olhos, com voz alterada e timbre adulto, me disse: "Sabe, eu nasci para passar por isso". Um mês depois, a mãe me ligou informando que o filho havia falecido e que ela havia se separado do marido. Mencionei esse caso porque achei que serviria para meu amigo refletir sobre o nascer, a vida... e o depois.
Pertinente ao tema da nossa conversa sobre reencarnação, contei-lhe também um fato muito significativo para mim. Na prática do esporte, eu havia feito amizade com Rafael, com quem além de treinar karatê, costumava também conversar sobre a vida e a morte e, um dia, jocosamente combinamos que quem fosse morrer primeiro informaria o outro sobre o depois.
Aos 54 anos de idade, Rafael teve um infarto agudo do miocárdio e faleceu. Cerca de sete dias depois da sua morte, um amigo comum da academia me contou que Rafael lhe aparecera em sonho vívido, vestindo uma túnica amarelo-ouro, sentado, sorrindo e olhando para muitos escaravelhos no chão, à sua frente.
Impressionado, ele não entendia o significado desse sonho. Expliquei-lhe que o escaravelho era o símbolo sagrado do renascimento entre os antigos egípcios. Dessa forma, a intermediação foi por alguém que não estava interessado em reencarnação e que não fazia nenhuma idéia a respeito da simbologia do escaravelho!
Quando terminei, meu amigo, abraçando-me disse: "De fato, a reencarnação, seja ela um fenômeno geral ou não, sem dúvida pode oferecer interessantes possibilidades no entendimento e na interpretação de muitas coisas que de outra forma dificilmente fariam sentido... portanto, por que não?"
Renato
Mayol é médico com pós-graduação pela Universidade de Pensilvânia nos Estados
Unidos, pelo Instituto de Pesquisa Chester Beatty na Inglaterra e pelo
Instituto de Cancerologia de Villejuif, na França e há mais de 25 anos atua em
pesquisas clínicas em diversas áreas. Tão importante quanto o interesse pela
pesquisa medica, o interesse pelo autoconhecimento levou-o a receber instrução
da Antiga e Mística Ordem Rosacruz (AMORC) e da Ordem Martinista. Foi iniciado
em Meditação Transcendental e em Meditação Kriya Yoga. Participou de rituais
com plantas “mestras” ou enteógenos. Também frequentou a Associação Pró-Vida,
fundada pelo filósofo e médico Dr. Celso Charuri e participou de seminários do
físico e escritor Patrick Drouot, sendo que de ambos teve o privilégio de
compartilhar a amizade. É autor dos livros “Câncer – Corpo e Alma”, “Meditação
– A Chave para a Nova Era” e do livro “O Labirinto Azul” (Reflexões sobre o
nascer, a vida e... o depois).
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